domingo, 19 de setembro de 2010

Artigo Acadêmico de minha Autoria [2009]

Das boas intenções hedonísticas

Rubens Luis Urue Filho*

Durante a 2ª quinzena dezembrina de 2008, período propício a várias ocasiões – entre elas, a ocorrência de exuberantes férias universitárias em transatlânticos – soube-se, por meio da imprensa, da morte da estudante Isabella Bacaratt Negrato, de 20 anos. O incidente aconteceu a bordo do luxuoso navio MSC Opera.
Para fins informativos é necessário citar que Isabella cursava Direito na Instituição Toledo de Ensino (ITE) e era razoavelmente bem nascida, filha da estabilizada economia interiorana paulista. Sua cidade natal era Bauru.
Argumentando sobre temas diversos – mas sem perder o contexto do fato – é possível traçar um paralelo entre a morte, hedonismo e a juventude, visando compreender o porquê de tragédias dessa espécie costumam a acontecer.
A morte é encarada como uma personificação das mais imprevisíveis. Sua manifestação sempre nos escandaliza – mesmo que queiramos negar tal impressão. De forma proposital e até curiosa, o (in)conformismo e o trauma para com ela aumenta ou diminui de acordo com a idade das vítimas. Geralmente, quanto menor a idade do(a) infortunado(a), mais inconcebível será a aceitação de sua morte.
Seria, ao menos em tese, menos incômodo relacionar a morte com a velhice do que com a juventude. Por isso, quando jovens têm suas vidas dissipadas precocemente, tal acontecimento vem acompanhado de revolta, enquanto que, diante da morte de um ancião, a aceitação torna-se condicional.
Sobre o hedonismo, para aqueles que desconhecem-no, resumo que trata-se de um antigo pensamento filosófico grego que considera o prazer como a finalidade única da vida humana. Sendo assim, convencionou-se, entre muitos pensadores modernos, designar a evidente contemporaneidade hedonista sob o rótulo de “modernidade líquida”, numa referência a desmesurada busca pelo prazer. Este, quando alcançado, se descondensaria e evaporaria em nossas mãos, tal qual um cubo de gelo exposto ao sol.
Justiça seja feita, os hedonistas primevos defendiam que o prazer genuínosatisfação externa, material. O Prazer é obtido pelo dinheiro e, obviamente, por aquilo que ele pode proporcionar seja um automóvel de luxo, um duplex moderníssimo, roupas e paixonites descartáveis. Mas deixemos esse blá-blá-blá brotaria de nossa consciência, prazer esse obtido de uma auto-reflexão sincera.
Falando de juventude, considero-me apto a escrever devaneios, pois me considero jovem. A jovialidade é minha fiel criada. A juventude mostra-se contraditória em vários aspectos. Estranho seria se tal grupo fosse homogêneo. Uns dizem que a juventude anda mais alienada que nunca e, realmente, após tamanha repetição factual de jovens que morrem, vítimas de bebedeiras alucinantes, não há outra conclusão a se obter.
Futilidades mil, vãos prazeres. Eis umas das facetas hedonistas de nossa civilização computadorizada. Besteiras joviais, quem já não fez? Eu mesmo já fiz tantas. Mas quando os limites da balbúrdia são ultrapassados por consecutivas vezes, isso cansa.
Possivelmente a força da juventude esteja desacordada, alcoolizada em Pub´s londrinos, individualizadas no cenário underground das diversas metrópoles urbanas (de São Paulo à Guadalajara, de Istambul à Mumbai), calada pelos regimes políticos radicais (vê-se o genocídio étnico que ocorre há anos em Darfur, no Sudão. Nesse caso, não apenas os jovens são mortos). Não serei injusto em esquecer de salientar que os jovens já promoveram revoluções, seja de escala política ou sexual. E isso não se deve ocultar.
O contexto social vigente parece ter imergido os jovens numa vivência individualista e extremamente narcisística. E essa unilateralidade serve como agente condicionante para perseguirmos o prazer, cada vez mais. Os jovens, sem dúvidas, estão certos nessa intenção. Mas fazem isso de maneira alucinada, ao melhor estilo de Artur Rimbaud e apoiando-se na máxima cazuziana “Prefiro viver dez anos a mil”.
Esquecemos, porém, que os juros do tempo uma hora vem cobrar seu preço. A tênue linha que divisa o exagero e a sensatez deve ser vigiada. Há casos em que, diante de algumas burradas empreendidas, a sorte vem nos confortar. Em outros, os limites atingidos tornam-se impossíveis de serem refeitos. Celebrações universitárias em transatlânticos deslumbrantes regadas a muita bebida, sexo e boas intenções hedonísticas continuarão a acontecer. A acadêmica Isabella, possivelmente, experimentou desse hedonismo desvirtuado. Será que valeu a pena ou não? Infelizmente, ela não está viva para esclarecer-nos de sua conclusão.

* Acadêmico de Jornalismo, UFMS.

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