domingo, 19 de setembro de 2010

Artigo Acadêmico de minha Autoria [2009]

Do libertário precavido.

Usualmente, termos batizados como “Liberdade de Expressão” e “Diversidade Cultural” são evocados em situações onde o autoritarismo e os preconceitos revelam-se manifestos. Enquanto o primeiro termo, geralmente, está relacionado a cenários político-moralistas, o segundo é associado a pressupostos de tolerância às diferenças e a evidências antropológicas. A noção moderna de liberdade de expressão surgiu como estandarte conduzido por indivíduos contrários a sistemas totalitários (em suas mais variadas formas), explicitando uma postura defensiva da multi-expressividade de pensamento. Logo, o ideal libertário-contestador impregnou-se à concepção comum de tal expressão, tornando-a legítima e acessível a todos.

Contudo, tal legitimidade mostrou-se embaraçosa, pois, o clamor à manifestação de idéias divergentes estimulou – segundo os conservadores – o crescente desrespeito e a desmoralização de outros valores. A liberdade está aí, oras. Somos livres para defendermos nossas opiniões e ideologias individuais. Não interessa se pensamos como neonazistas e odiamos negros e judeus. Não faz diferença se acreditamos que o voluntariado é o único caminho para melhorarmos nosso país. Nem importa se somos garotas que desejam outras garotas. Sendo assim, uma vez entronizada como direito universal, a principal discussão em torno da liberdade de expressão seria o estabelecimento de suas regras ético-normativas: se todos têm direito de expressão, existiria uma forma ‘mais correta’ ou ‘incorreta’ de se expressar?

Sobre o conceito de “Diversidade Cultural”, pode-se afirmar que sua origem parte de premissas antropológicas, assim como, também, é assunto reverenciado pelas ‘filosofias da tolerância’. Seu âmbito de discussão é muitíssimo abrangente, todavia sua essência pode ser decantada facilmente. Desde a ‘época de ouro’ dos teóricos do Evolucionismo europeu (séc. XIX), a Antropologia clássica sempre considerou a diversidade étnico-cultural das sociedades, classificando-as segundo seu ‘nível de civilidade’. Há quem blasfeme contra os antigos pesquisadores eurocentristas acusando-os de serem os ‘semeadores do racismo’. Polêmicas à parte, o fato é que, desde tempos remotos o homem possui grande dificuldade em lidar com ‘o diferente’.

No contexto atual, termos apocalípticos como “Guerra de Civilizações” e “Choque entre Culturas” ressurgem, justamente quando verificamos o máximo que a humanidade pôde contemplar em relação à diversidade cultural: centenas de países, povos diversos, credos variados, diferentes gêneros/preferências sexuais, sem esquecer do eterno disparate monetário-tecnológico entre os países (fator principal de aglutinação e desagregação entre as ‘culturas contemporâneas’).

Diante de tal diversidade, seria necessária uma tremenda produção industrial de doses de tolerância engarrafada. Os ânimos estão exaltados. É nesses momentos que a possibilidade de ‘expressar com liberdade’ torna-se relativa, pois, a sustentação de uma opinião, de uma expressão individual, certamente resultará num embate discordante. Argumenta-se, então que a liberdade de expressão foi concebida justamente pra isso: para promover debates e para expor a multiculturalidade. Pense!

Diante dos fatos, a verdade genuína mostra-se como o melhor norte para os adeptos de ‘achismos’ (Eu acho que...). Àquele (a) que almeja usufruir de sua liberdade diante do mar de opiniões divergentes, recomenda-se o uso e abuso dos seguintes ingredientes: conhecimento real, senso crítico responsável, respeito e considerável sutileza ao lidar com temas controversos. Com isso, muitos debates medíocres seriam evitados e passaríamos a reconhecer o conceito de ‘liberdade de expressão’ – dentro da noção de diversidade cultural – como um poderoso agente transformador de caráter extremamente subjetivo. E necessário.

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