domingo, 19 de setembro de 2010

Artigo Acadêmico de minha Autoria [2009]

Ensaios sobre o Oriente próximo – 1.

Rubens Luis Urue Filho*

Compreensão. O sentido desse termo infere que, em determinados ambientes e situações, é preferível assimilar nossas opiniões próprias em consonância com os pensamentos que nos fazem oposição. Contrariamente ao que possa parecer, tal atitude não deve ser confundida como uma vã mudança repentina de valores, mas sim, como uma das mais nobres e sutis estratégias humanas para evitar-se conflitos desnecessários.
Aos mais exaltados, peço calma. Não estou dizendo que a mudez ou a negação de idéias pessoais irão conduzir à resolução de todos os problemas da terra. A pergunta lançada é: quando o bicho-homem perceberá que a adoção de um diálogo eficaz na resolução de discordâncias gritantes é mais sensato que toneladas de parafernálias bélicas high-tech?
Triste é a evidência de que a diplomacia – no atual cenário internacional – seja vista como princípio démodé. E como tal constatação é desoladora: mares de sangue inocente continuam sendo derramados em guerras impulsionadas por caprichos unilaterais.
Discorrendo acerca daquilo que me cabe, advirto que esse é um texto meramente acadêmico. Mais precisamente, é como um expectador desconfiado que desenvolvo essas linhas. É como um expectador/leitor dos diferentes noticiários (televisivos e impressos) que me pergunto: existe desafio maior – entre tantos outros – que interpretar o tamanho inconsenso entre israelenses e palestinos do modo menos parcial possível? Tentar compreender o porquê desse conflito, considerado pela maioria das pessoas como insano e absurdo, é motivo de instigação.
Não é de hoje que foguetes Quassan são lançados por partidários do grupo extremista Hamas em direção ao norte de Israel matando israelenses a esmo. Também não é fato novo a alta instabilidade político-cultural entre israelitas e seus vizinhos árabes. Pelo contrário, essa tensão já possui alguns mil anos de vigência.
Para vislumbrarmos o ‘pomo da discórdia’ em questão faz-se necessário, porém, breves informações. O estabelecimento do Estado de Israel data de 14 de Maio de 1948 e como toda criação artificial, apresenta alguns pontos falhos e perfeitamente discutíveis.
Defendendo uma concepção religiosa, os israelenses acreditam que seu país é a concretização de uma profecia antiga na qual Yaveh (ou Javé, o Deus único e onipotente) teria prometido aos descendentes de Abraão (povo judeu), a terra prometida de Canaã. Sabe-se que, desde a 1ª e 2ª Diásporas hebraicas (ambas promovidas por imperadores romanos, respectivamente em 70 e 136 d.C.) a população judia andou dispersa e errante por várias partes do mundo.
Muitas outras humilhações históricas foram experimentadas por esse povo. Os judeus foram ainda queimados vivos – aos milhares – nas fogueiras da Inquisição Católica em toda a Europa, principalmente na Espanha, onde eram caçados com extraordinário empenho pela coroa castelhana. Não bastasse a perseguição sofrida no velho continente, centenas de judeus que eram despejados nas Américas, no áureo período das Grandes Navegações, também foram aqui, depois de certo tempo, novamente acossados.
Aproximadamente nesse período (séculos XVI e XVII) os judeus iniciaram, de forma lenta e gradual, um ‘adiado retorno’ ao tradicional cenário de sua origem – grande parte fixando-se na cidade de Jerusalém. Todavia, a maioria permanecia espalhada por vários pontos do globo.
Tempos depois, o aparecimento de figuras importantes à causa judaica – entre elas, o jornalista Theodor Herlz, mentor e criador do Movimento Sionista, que já em 1896, visava à instauração de um lar judeu na Palestina – contribuiu para alimentar a ânsia por um Estado Hebraico.
Em meados das décadas de 1930-40 – período em que se conflagrou a 2ª Grande Guerra – a maior concentração judaica do mundo estava situada no leste europeu. À essa época, diante da vertiginosa ascensão nazista, viu-se um verdadeiro ‘boom’ migratório dos judeus ali locados rumo à Palestina. A expansão do 3º Reich amedrontava os guetos judaicos (num período em que indústrias da morte aos moldes de Auschwitz estavam em pleno vapor).
Findado um dos conflitos mais sangrentos do ocidente contemporâneo – e revelado ao mundo os horrores do holocausto judeu promovido por Adolf Hitler e sua obsessão ariana – a Liga das Nações (gérmen da Organização das Nações Unidas) iniciou o processo de desenvolvimento de um território exclusivamente judaico.
Assim nasceu o Estado de Israel. Entre incoerências políticas, óbvios interesses petrolíferos e esperançosa predestinação religiosa sua bandeira foi forjada.
Todavia, no decorrer dessa historinha, um povo já havia se estabelecido na região da Palestina num estágio anterior ao neo-regresso judeu. Esse povo – igualmente unido por elos religiosos – provinha de localidades próximas à cidade santa de Jerusalém. De genealogia predominantemente árabe e seguidores do Alcorão, engoliram a seco o confinamento de sua população numa limitada área territorial...

O assunto continua no próximo artigo.
Quem disse que é tarefa fácil mexer num vespeiro?

* Acadêmico de Jornalismo, UFMS.

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